quinta-feira, 13 de março de 2008

Aos 30

O mês de fevereiro começou bem interessante, afinal começou bem, já com o carnaval em seu início. Para os que consideram que o ano efetivamente só começa após a folia de momo o ano começou cedo, cabe decidir se isso foi bom ou ruim. Ainda em fevereiro tivemos um fato que com certeza entrará para história: Fidel Castro passa o poder em Cuba após 49 anos à frente de seu governo. Com comemorações de uns e lamentações de outros, o fato é que se trata do, talvez, maior personagem de nossa história moderna sendo vencido pelo tempo. Ainda tivemos o ápice do caso dos cartões corporativos (que por sinal, como anda?), o anúncio de que a nova coqueluche do momento para os nem tão antenados assim, a bolsa de valores, foi indicada como melhor investimento do mês e Bob Dylan veio ao Brasil. Mas nada disso me tirou da cabeça o que ainda estava por vir: meu 30º aniversário.

Excetuando o dia em que acordei com 25 anos e imaginei a vida como um circuito oval de automobilismo, onde você tem a linha de largada (que por sinal é a de chegada) a reta oposta e duas curvas (as curvas representariam a passagem de uma década para outra e as retas as décadas propriamente ditas a serem enfrentadas, o que me apavorou por um dia pelo fato de, na minha cabeça, eu estar bem no meio da curva e todo mundo sabe que não se freia em curvas) sempre fui um cara bem resolvido quanto a esse lance de idade. Tanto que nunca mais pensei no assunto. Até o início do mês que passou.

Com tantas coisas que tinha a fazer durante esse mês, esse pensamento sombrio me atormentou durante todos os dias, chegando a me impedir de escrever o texto que estava programando para esse mês. Toda vez em que me prontificava a escrevê-lo, minha cabeça era inundada com a angústia da proximidade dos 30.

Pensei que seria mais fácil escrever sobre a idade consagrada por Balzac. Parecia-me lugar comum querer dissertar sobre esse tema, muitos após ele já transcreveram suas dúvidas, incertezas e expectativas sobre, ainda muitos foram os amigos que já se angustiaram e partilharam dessa angústia conosco. Acontece que com a proximidade dos meus 30 anos eu entendi de verdade o que representa para alguém a chegada da terceira década.

Minha primeira lição aos 30 foi descobrir como é difícil escrever sobre. Sei que outras ainda estão por vir. Ainda mais quando se resolve abraçar o mundo do jeito que resolvi fazer esse ano, e ele ainda ta só começando.

O pior dos 30, eu também já descobri, e não é a proximidade dos 40. São as incertezas. É diferente quando você não tem certezas antes dos 30, afinal, antes, você só têm vinte e poucos anos. Aos 30 as mesmas incertezas pesam, e muito.

É estranho, mas coisas que já haviam ficado para trás se reavivam na memória. Escolhas que já tínhamos feito anteriormente de forma aparentemente correta agora retornam anuviadas. Um turbilhão de coisas. Ao menos para mim. Desculpas a quem discorda ou para quem não passou por isso.

Hoje entendo que fazer 30 anos é dar a mão ao resto de sua vida, não que o resto seja breve, e nem necessariamente resto no sentido de resíduo ou sobra. Mas talvez as coisas tenham que tomar outro rumo; ou deveria; ou talvez não, quem sabe?!?!?

Por fim termino esse texto com a impressão de se tratar sobre um tempo de escolhas, novos rumos e sem conseguir transcrever em linha alguma o real significado do que está sendo ter 30 e, sendo assim, pedindo desculpas a quem perdeu algum tempo lendo essa parca reflexão de um cara angustiado com a passagem do tempo.

Obrigado

Marcio Xavier