Terça-feira, 29 de janeiro foi um bom dia para a produção artística e cultural do ES. Foram lançados, por meio de concurso público, 12 editais para fomentação, promoção e divulgação da produção artística local. Ufa!!! Tava na hora. O Estado não possui uma lei de incentivo à cultura, nunca tinha entendido o porquê disso, mas em seu discurso o governador Paulo Hartung explicou aos presentes a “posição do Estado de não se considerar responsável pela produção cultural, mas sim pelo fomento e indução de uma política pública de acesso, criação de oportunidades de expressão e de auto-afirmação de todos os capixabas”. Mas essa é uma posição do atual governo, e os anteriores?!? Acho que vamos ficar sem essas explicações. De qualquer forma, dois pontos pra PH. Pela iniciativa e pela forma de pensar. A meu ver o poder público não deve mesmo simplesmente financiar as manifestações culturais, e sim criar os dispositivos necessários para que a população se interesse pela arte. Cabe aos artistas e profissionais do meio tornarem seus negócios rentáveis e lucrativos por si só, o papel do Estado é outro. Ou deveria.
Ao menos no que me recordo (muito por ter lido, pois o assunto me interessa e eu não tenho idade pra ter vivido isso) nos últimos 20 anos, aproximadamente, criou-se um mito sobre a obrigatoriedade do Estado financiar manifestações artísticas, criando uma espécie de assistencialismo para a classe artística. Depois da criação da Lei Rouanet em 1991, todo mundo resolveu pedir a benção ao papai, seja lá qual for o pai da vez. Nada errado nisso, se é um direito que temos, porque não, né?!?! Pergunta: e como era antes, alguém sabe? Quando essa lei não existia, como as coisas eram feitas? Porque eram feitas coisas. Mas se tem, vamos usar. Pra mim o certo é não ter. Nada. Se bem que nada é o que temos, pelo menos aqui no ES, e não são 2 milhões de reais que irão mudar isso.
O que precisamos é de respeito. Claro que o dinheiro é bem vindo, mas precisamos que o preconceito quanto ao “artista local” seja extinto. No ES existe uma “cultura” de que, se o artista é residente no Estado, ele não pode ser bom. O que é bom tá lá fora. Será? Quem disse? A TV? O rádio? Talvez, só talvez, o que falte seja uma oportunidade de se mostrar. E aí fica difícil. É difícil se mostrar bom quando em eventos patrocinados pelo poder público de forma geral coloca-se um palco de 3 metros de altura com 20 metros de largura para um “artista nacional” e os “artistas locais” encaram um palco de meio metro de altura por 6 de largura. Assim não dá!!! Dessa forma vamos ser sempre a “bandinha de um amigo”. Ainda temos outras dificuldades técnicas difíceis de serem resolvidas graças ao preconceito. Nossos artistas encontram dificuldades em se apresentar em equipamentos de som e luz adequados por puro preconceito. Como se a nós não fosse permitido pleitear condições adequadas de trabalho. Parece que exigimos demais. Temos que nos apresentar do jeito que nos é oferecido ou nada. Esse pensamento é recorrente a contratantes em geral, empresas de som e luz, etc. Quantas vezes ouvimos coisas do tipo “meu amigo, fulano já tocou nesse som, com essa luz e você fica aÍ fazendo graça?!?!”. Esquecem de uma coisa, nós não somos fulano, somos nós. Nossas necessidades são outras. Um som ou luz que atende ao Zezé (ele mesmo, o filho do Francisco) não necessariamente atende ao O Rappa, assim como, talvez, não atenda ao Símios, Moxuara, Casaca, Mahnimal ou Rastaclone, simplesmente por termos necessidades diferentes. Mas nós não podemos reivindicar nada, ofende a quem está nos fazendo o grande “favor”.
Tudo bem, eu assumo, não somos melhores que Jorge Benjor, Gilberto Gil, Zezé e mais todos os outros artistas que vocês possam pensar nesse momento. Não somos mesmo.
Mas não somos piores. Nossas músicas são tão boas quanto as deles. Só são outras músicas. Diferentes. Menos conhecidas?!?! Podem ser. Mas definitivamente não são piores.
No último aniversário de Vitória aconteceu tudo isso que acabei de escrever acima. Um palco enorme pro Jorge Benjor montado prontinho pra ele e uma lona de circo onde se apresentaram vários artistas residentes aqui no ES. Por que não puseram todos no palco, que contava com uma estrutura impecável de som e luz, onde todos poderiam se apresentar com dignidade e se orgulhar de ser artista, de apresentar ao público o melhor que eles podem ser e fazer? Por que as apresentações que ocorreram durante a semana não tiveram a mesma projeção quanto o grande show do Benjor? Todos nós, que trabalhamos no meio, sabemos que existia condição técnica o suficiente para que isso ocorresse. Ao CASACA foi dado o título de “banda de abertura” pela condição de nós termos o “privilégio” de “dividir o palco” com o grande astro da noite. Nada contra Jorge, ao contrário, muita reverência e admiração. O legal é que o CASACA questionou tudo o que já escrevi, e como resposta ficou fora da programação de verão da Prefeitura de Vitória e está, digamos, “de castigo” em uma emissora de TV do ES, sem poder se apresentar ou dar entrevistas em seus programas. Eles estão certos, fomos muito mal educados mesmo em questioná-los, afinal a cavalo dado não se olha os dentes, não é assim? Desculpas. Para ser artista no Estado do ES é necessário submeter-se à vontade dos outros sem contestar. Uma condição difícil, pois vai contra a natureza da arte. Ou talvez sejamos todos mesmo artistas domados, já não sei mais.
De toda forma, parabéns ao governo do Estado, mas apenas pelos editais. Talvez com esse dinheiro que foi disponibilizado possamos comprar o respeito que nos é negado.
Valendo-se desse belo jargão criado pelo único Afro-Nipônico, fanho e de língua presa existente no mundo, o célebre Xing Ling Jhow, um quase filósofo nascido em uma terra em que só nasceu ele mesmo, esse blog tem por intenção falar e comentar sobre qualquer fato ou assunto ocorrido no mundo, verdadeiro ou não, o negócio é falar de alguma coisa.
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Um comentário:
Brasil meu caro Brasil...
é sempre assim... isso acontece por nos conformarmos com tudo faclmente...
bjaum
ah e postou no dia do meu niver =P
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