As Origens Trágicas e Esquecidas do Primeiro de Maio
Maio já foi um mês diferente de qualquer outro. No primeiro dia desse mês as tropas e as polícias ficavam de prontidão, os patrões se preparavam para enfrentar problemas e os trabalhadores não sabiam se no dia 2 teriam emprego, liberdade ou até a vida.
Hoje, tudo isso foi esquecido. A memória histórica dos povos é pior do que a de um octogenário esclerosado, com raros momentos de lucidez, intercalados por longos períodos de amnésia. Poucos são os trabalhadores, ou até os sindicalistas, que conhecem a origem do 1° de maio. Muitos pensam que é um feriado decretado pelo governo, outros imaginam que é um dia santo em homenagem a S. José; existem até aqueles que pensam que foi o seu patrão que inventou um dia especial para a empresa oferecer um churrasco aos "seus" trabalhadores. Também existem - ou existiam - aqueles, que nos países ditos socialistas, pensavam que o 1° de maio era o dia do exército, já que sempre viam as tropas desfilar nesse dia seus aparatos militares para provar o poder do Estado e das burocracias vermelhas.
As origens do 1° de maio prendem-se com a proposta dos trabalhadores organizados na Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) declarar um dia de luta pelas oito horas de trabalho. Mas foram os acontecimentos de Chicago, de 1886, que vieram a dar-lhe o seu definitivo significado de dia internacional de luta dos trabalhadores.
No século XIX era comum (situação que se manteve até aos começos do século XX) o trabalho de crianças, grávidas e trabalhadores ao longo de extenuantes jornadas de trabalho que reproduziam a tradicional jornada de sol-a-sol dos agricultores. Vários reformadores sociais já tinham proposto em várias épocas a idéia de dividir o dia em três períodos: oito horas de trabalho, oito horas de sono e oito horas de lazer e estudo, proposta que, como sempre, era vista como utópica, pelos realistas no poder.
Com o desenvolvimento do associativismo operário, e particularmente do sindicalismo autônomo, a proposta das 8 horas de jornada máxima, tornou-se um dos objetivos centrais das lutas operárias, marcando o imaginário e a cultura operária durante décadas em que foi importante fator de mobilização, mas, ao mesmo tempo, causa da violenta repressão e das inúmeras prisões e mortes de trabalhadores.
Desde a década de 20 do século passado, irromperam em várias locais greves pelas oitos horas, sendo os operários ingleses dos primeiros a declarar greve com esse objetivo. Aos poucos em França e por toda a Europa continental, depois nos EUA e na Austrália, a luta pelas oitos horas tornou-se uma das reivindicações mais freqüentes que os operários colocavam ao Capital e ao Estado.
Quando milhares de trabalhadores de Chicago, tal como de muitas outras cidades americanas, foram para as ruas no 1° de maio de 1886, seguindo os apelos dos sindicatos, não esperavam a tragédia que marcaria para sempre esta data. No dia 4 de maio, durante novas manifestações na Praça Haymarket, uma explosão no meio da manifestação serviu como justificativa para a repressão brutal que seguiu, que provocou mais de 100 mortos e a prisão de dezenas de militantes operários e anarquistas.
Alberto Parsons um dos oradores do comício de Haymarket, conhecido militante anarquista, tipógrafo de 39 anos, que não tinha sido preso durante os acontecimentos, apresentou-se voluntariamente à polícia tendo declarado: "Se é necessário subir também ao cadafalso pelos direitos dos trabalhadores, pela causa da liberdade e para melhorar a sorte dos oprimidos, aqui estou". Junto com August Spies, tipógrafo de 32 anos, Adolf Fischer tipógrafo de 31 anos, George Engel tipógrafo de 51 anos, Ludwig Lingg, carpinteiro de 23 anos, Michael Schwab, encadernador de 34 anos, Samuel Fielden, operário têxtil de 39 anos e Oscar Neeb seriam julgados e condenados. Tendo os quatro primeiros sido condenados à forca, Parsons, Fischer, Spies e Engel executados em 11 de novembro de 1887, enquanto Lingg se suicidou na cela. Augusto Spies declarou profeticamente, antes de morrer: "Virá o dia em que o nosso silêncio será mais poderoso que as vozes que nos estrangulais hoje".
Este episódio marcante do sindicalismo, conhecido como os "Mártires de Chicago", tornou-se o símbolo e marco para uma luta que a partir daí se generalizaria por todo o mundo.
O crime do Estado americano, idêntico ao de muitos outros Estados, que continuaram durante muitas décadas a reprimir as lutas operárias, inclusive as manifestações de 1° de maio, era produto de sociedades onde os interesses dominantes não necessitavam sequer ser dissimulados. Na época, o Chicago Times afirmava: "A prisão e os trabalhos forçados são a única solução adequada para a questão social", mas outros jornais eram ainda mais explícitos como o New York Tribune: "Estes brutos [os operários] só compreendem a força, uma força que possam recordar durante várias gerações..." Seis anos mais tarde, em 1893, a condenação seria anulada e reconhecido o caráter político e persecutório do julgamento, sendo então libertados os réus ainda presos, numa manifestação comum do reconhecimento tardio do terror de Estado, que se viria a repetir no também célebre episódio de Sacco e Vanzetti.
A partir da década de 90, com a decisão do Congresso de 1888 da Federação do Trabalho Americana e do Congresso Socialista de Paris, de 1889, declararem o primeiro de maio como dia internacional de luta dos trabalhadores, o sindicalismo em todo o mundo adotou essa data simbólica, mesmo se mantendo até ao nosso século como um feriado ilegal, que sempre gerava conflitos e repressão.
Segundo o historiador do movimento operário, Edgar Rodrigues, a primeira tentativa de comemorar o 1 de maio no Brasil foi em 1894, em São Paulo, por iniciativa do anarquista italiano Artur Campagnoli, iniciativa frustrada pelas prisões desencadeadas pela polícia. No entanto, na década seguinte, iniciaram-se as comemorações do 1 de maio em várias cidades, sendo publicados vários jornais especiais dedicados ao dia dos trabalhadores e números especiais da imprensa operária comemorando a data. São Paulo, Santos, Porto Alegre, Pelotas, Curitiba e Rio de Janeiro foram alguns dos centros urbanos onde o nascente sindicalismo brasileiro todos os anos comemorava esse dia à margem da legalidade dominante.
Foram décadas de luta dos trabalhadores para consolidar a liberdade de organização e expressão, que a Revolução Francesa havia prometido aos cidadãos, mas que só havia concedido na prática à burguesia, que pretendia guardar para si os privilégios do velho regime.
Um após outro, os países, tiveram de reconhecer aos novos descamisados seus direitos. O 1° de maio tornou-se então um dia a mais do calendário civil, sob o inócuo título de feriado nacional, como se décadas de lutas, prisões e mortes se tornassem então um detalhe secundário de uma data concedida de forma benevolente, pelo Capital e pelo Estado em nome de S. José ou do dia, não dos trabalhadores, mas numa curiosa contradição, como dia do trabalho. Hoje, olhando os manuais de história e os discursos políticos, parece que os direitos sociais dos trabalhadores foram uma concessão generosa do Estado do Bem-Estar Social ou, pior ainda, de autoritários "pais dos pobres" do tipo de Vargas ou Perón.
Quanto às oitos horas de trabalho, essa reivindicação que daria origem ao 1º de maio, adquiriu status de lei, oficializando o que o movimento social tinha já proclamado contra a lei. Mas passado mais de um século, num mundo totalmente diferente, com todos os progressos tecnológicos e da automação, que permitiram ampliar a produtividade do trabalho a níveis inimagináveis, as oitos horas persistem ainda como jornada de trabalho de largos setores de assalariados! Sem que o objetivo das seis ou quatro horas de trabalho se tornem um ponto central do sindicalismo, também ele vítima de uma decadência irrecuperável, numa sociedade onde cada vez menos trabalhadores terão trabalho e onde a mutação para uma sociedade pós-salarial se irá impor como dilema de futuro. Exigindo a distribuição do trabalho e da riqueza segundo critérios de eqüidade social que o movimento operário e social apontou ao longo de mais de um século de lutas.
Jorge E. Silva - Membro do Centro de Estudos Cultura e Cidadania - Florianópolis (CECCA)
http://nodo50.org/insurgentes/textos/mundo/19origensprimeiromaio.htm
Valendo-se desse belo jargão criado pelo único Afro-Nipônico, fanho e de língua presa existente no mundo, o célebre Xing Ling Jhow, um quase filósofo nascido em uma terra em que só nasceu ele mesmo, esse blog tem por intenção falar e comentar sobre qualquer fato ou assunto ocorrido no mundo, verdadeiro ou não, o negócio é falar de alguma coisa.
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quarta-feira, 21 de maio de 2008
domingo, 11 de maio de 2008
Sobre a necessida de sonhar.
Sonho: (lat somniu) sm 1 Representação em nossa mente de alguma coisa ou fato, enquanto dormimos. 2 Coisa imaginada, mas sem existência real no mundo dos sentidos. 3 Idéia com a qual nos orgulhamos; idéia que alimentamos; pensamento dominante que seguimos com interesse ou paixão.
Sonhar: (lat somniare) vint 1 Ter um sonho ou sonhos. vti 2 Ver (alguém ou alguma coisa) em sonho, conviver ou comunicar-se com, em sonho. vint 3 Delirar. vint 4 Entregar-se a devaneios e fantasias; idealizar. vtd e vti 5 Alimentar, pôr na imaginação. vtd 6 Adivinhar, fazer idéia de, imaginar, prever, supor, suspeitar.
Utopia: (gr ou+gr tópos+ia1) sf 1 Plano ou sonho irrealizável. 2 Fantasia (Dicionário Michaelis, 2002)
Sempre é bom, né!??!? Sonhar! Nunca conheci quem não goste. Não falo aqui do sonho da noite, durante o sono, mas do exercício lúdico de imaginar, projetar coisas que não necessariamente precisam acontecer. É um exercício extremamente prazeroso que desde muito cedo aprendemos a realizar, e bem! Chego a acreditar que os sonhos movem o mundo. O meu mundo com certeza move. O melhor do sonho, muitas vezes, é quando ele deixa o campo do imaginário e passa a habitar o concreto. É raro, mas acontece.
Acredito ser raro os casos de sonhos se transformarem em algo palpável pelo descrédito dado a quem tenta vivenciar seu sonho. A frase “fulano é um sonhador” é quase sempre usada de modo pejorativo. A racionalização do mundo e o advento da ideologia cientista criaram no mundo um ambiente hostil ao pensamento utópico, como afirma Boaventura de Souza Santos (http://pt.wikipedia.org/wiki/Boaventura_de_Sousa_Santos) em seu texto “Não disparem sobre o utopista.”, de 2001. Eu diria um pouco mais. Diria que o pragmatismo adotado pela ideologia vigente impõe ao sonhador uma condição de alienado perante o resto do mundo. Acontece que por definição marxista, e de modo bem simplificado, a alienação ocorre quando o sujeito não se reconhece na atividade que exerce, o que não se aplica ao sonhador.
Acho eu que sonhar deveria ser encorajado. Acredito também que sonhos têm o poder de mudar o mundo, nem que seja apenas o seu; o que deveria ser suficiente.
Em sonhos se tem a oportunidade de ter contato com as soluções possíveis para um determinado problema, inicialmente visto como algo difícil de ser resolvido. Conseguimos observar algumas dificuldades a partir de um outro ponto de vista e fazemos algo que o mundo real muitas vezes não nos deixa realizar que é explorar e esgotar todas as possibilidades de qualquer coisa que se queira. Ainda podemos estar ao lado de quem se gosta, mesmo longe. Ou podemos voltar aos melhores momentos de nossas vidas, em muitos casos com uma “veracidade” impressionante por estarmos sendo capaz, nesse momento, de reviver as cenas com a textura do toque, o aroma do momento e o gosto do dia. Algumas pessoas podem perguntar qual a vantagem disso, já que, em alguns casos, esses fatos já fazem parte de um passado que, talvez, realmente não possa se tornar presente uma vez mais. A quem me perguntar isso eu respondo: não imagino qual seria a vantagem, mas, tenho certeza que após todo esse exercício e com a mente tomada de boas recordações amplamente exploradas nesse lúdico exercício podemos tomar um novo fôlego para encarar as agruras dos dias rotineiros e embaçados pelas necessidades de um mundo cada vez mais cinza e difícil de viver. Deixo a essas pessoas uma pergunta também: por que não se deixar sonhar? Talvez a falta do pensamento utópico seja a grande responsável pela falta de realizações tanto em âmbito pessoal quanto em escalas maiores, como a política.
Sonho pra mim, também se relaciona com esperança. Por mais ingênuo que seja realmente sonho com dias melhores para todos, com uma política mais honesta, com o fim da filosofia “farinha pouca, meu pirão primeiro”, e sonho acordado com isso. Também me esforço ao máximo para trabalhar por meus sonhos, pois vejo o mundo de hoje como a realização dos sonhos dos que passaram por esse plano antes de nós. Foram os sonhos destes que fizeram o mundo ser do modo como o vivemos hoje. E estamos deixando de sonhar. Por puro comodismo, cada vez mais pessoas estão deixando que a ciência, os políticos ou qualquer outro sei-lá-o-que façam por elas qualquer coisa que deixe o mundo um lugar mais ameno para se viver, ao invés de trabalhar por ele, trabalha-se para ele. E assim se vive os sonhos dos outros sem se dar conta e vivemos cada vez mais resignados por não vivermos os nossos.
Encerro com uma reflexão feita por Boaventura, no mesmo texto citado acima: “Não será que a morte do futuro, que hoje receamos tão profundamente, foi há muito tempo anunciada pela morte da utopia?”.
Eu nunca vou deixar de sonhar!
Sonhar: (lat somniare) vint 1 Ter um sonho ou sonhos. vti 2 Ver (alguém ou alguma coisa) em sonho, conviver ou comunicar-se com, em sonho. vint 3 Delirar. vint 4 Entregar-se a devaneios e fantasias; idealizar. vtd e vti 5 Alimentar, pôr na imaginação. vtd 6 Adivinhar, fazer idéia de, imaginar, prever, supor, suspeitar.
Utopia: (gr ou+gr tópos+ia1) sf 1 Plano ou sonho irrealizável. 2 Fantasia (Dicionário Michaelis, 2002)
Sempre é bom, né!??!? Sonhar! Nunca conheci quem não goste. Não falo aqui do sonho da noite, durante o sono, mas do exercício lúdico de imaginar, projetar coisas que não necessariamente precisam acontecer. É um exercício extremamente prazeroso que desde muito cedo aprendemos a realizar, e bem! Chego a acreditar que os sonhos movem o mundo. O meu mundo com certeza move. O melhor do sonho, muitas vezes, é quando ele deixa o campo do imaginário e passa a habitar o concreto. É raro, mas acontece.
Acredito ser raro os casos de sonhos se transformarem em algo palpável pelo descrédito dado a quem tenta vivenciar seu sonho. A frase “fulano é um sonhador” é quase sempre usada de modo pejorativo. A racionalização do mundo e o advento da ideologia cientista criaram no mundo um ambiente hostil ao pensamento utópico, como afirma Boaventura de Souza Santos (http://pt.wikipedia.org/wiki/Boaventura_de_Sousa_Santos) em seu texto “Não disparem sobre o utopista.”, de 2001. Eu diria um pouco mais. Diria que o pragmatismo adotado pela ideologia vigente impõe ao sonhador uma condição de alienado perante o resto do mundo. Acontece que por definição marxista, e de modo bem simplificado, a alienação ocorre quando o sujeito não se reconhece na atividade que exerce, o que não se aplica ao sonhador.
Acho eu que sonhar deveria ser encorajado. Acredito também que sonhos têm o poder de mudar o mundo, nem que seja apenas o seu; o que deveria ser suficiente.
Em sonhos se tem a oportunidade de ter contato com as soluções possíveis para um determinado problema, inicialmente visto como algo difícil de ser resolvido. Conseguimos observar algumas dificuldades a partir de um outro ponto de vista e fazemos algo que o mundo real muitas vezes não nos deixa realizar que é explorar e esgotar todas as possibilidades de qualquer coisa que se queira. Ainda podemos estar ao lado de quem se gosta, mesmo longe. Ou podemos voltar aos melhores momentos de nossas vidas, em muitos casos com uma “veracidade” impressionante por estarmos sendo capaz, nesse momento, de reviver as cenas com a textura do toque, o aroma do momento e o gosto do dia. Algumas pessoas podem perguntar qual a vantagem disso, já que, em alguns casos, esses fatos já fazem parte de um passado que, talvez, realmente não possa se tornar presente uma vez mais. A quem me perguntar isso eu respondo: não imagino qual seria a vantagem, mas, tenho certeza que após todo esse exercício e com a mente tomada de boas recordações amplamente exploradas nesse lúdico exercício podemos tomar um novo fôlego para encarar as agruras dos dias rotineiros e embaçados pelas necessidades de um mundo cada vez mais cinza e difícil de viver. Deixo a essas pessoas uma pergunta também: por que não se deixar sonhar? Talvez a falta do pensamento utópico seja a grande responsável pela falta de realizações tanto em âmbito pessoal quanto em escalas maiores, como a política.
Sonho pra mim, também se relaciona com esperança. Por mais ingênuo que seja realmente sonho com dias melhores para todos, com uma política mais honesta, com o fim da filosofia “farinha pouca, meu pirão primeiro”, e sonho acordado com isso. Também me esforço ao máximo para trabalhar por meus sonhos, pois vejo o mundo de hoje como a realização dos sonhos dos que passaram por esse plano antes de nós. Foram os sonhos destes que fizeram o mundo ser do modo como o vivemos hoje. E estamos deixando de sonhar. Por puro comodismo, cada vez mais pessoas estão deixando que a ciência, os políticos ou qualquer outro sei-lá-o-que façam por elas qualquer coisa que deixe o mundo um lugar mais ameno para se viver, ao invés de trabalhar por ele, trabalha-se para ele. E assim se vive os sonhos dos outros sem se dar conta e vivemos cada vez mais resignados por não vivermos os nossos.
Encerro com uma reflexão feita por Boaventura, no mesmo texto citado acima: “Não será que a morte do futuro, que hoje receamos tão profundamente, foi há muito tempo anunciada pela morte da utopia?”.
Eu nunca vou deixar de sonhar!
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