terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Despretensiosamente...

Começo hoje tentado descrever como estou feliz com esse blog. Por muitas vezes pensei em montá-lo mas não sabia no que ia dar. Como já vivo em um mundo de incertezas que é o meio artístico, não curto muito viver isso fora desse contexto. Mas fazer o que, o incerto me persegue e a única maneira de saber o que aconteceria se montasse um blog era fazê-lo. Para minha surpresa, momentos após ele efetivamente estar no ar, me deparo com crítica feita ao disco do CASACA no site IU, o que me deu um assunto para escrever. O resultado do meu primeiro texto de opinião publicado foi, pra mim, surpreendente. Poucos dias após tê-lo publicado recebi um e-mail do editor do IU dizendo que poderia publicá-lo também no próprio site. De quebra tive a coluna musical oferecida a minha pessoa, a qual recusei por não me sentir preparado para a função de crítico musical, mas ganhei outra intitulada por meu editor de contraponto, uma vez que não pensei em nenhum nome legal para intitulá-la. Mas adorei a sugestão do Fred e é assim que vai ficar mesmo. Por fim o blog se mostrou um sucesso ao meu intento de expor alguma opinião.

Pegando o gancho da “crítica” do colunista do IU sobre o disco do CASACA, alguns comentários me deixaram um pouco perplexos. Não por eles em si, mas pelo que está atrás deles.

A agressividade do autor do texto e de alguns comentaristas me revela uma preocupação exagerada em ter uma “opinião formada”. Li certa vez no livro Amor Líquido – Sobre a fragilidade dos laços humanos, do sociólogo polonês Zygmunt Bauman uma passagem que dizia sobre a necessidade existente hoje de “estar em movimento”. Embora o livro não trate desse assunto, é exatamente essa sensação que os comentaristas querem passar, que estão em movimento. Bauman aborda essa necessidade no aspecto das relações interpessoais, eu tentarei falar sobre isso através do viés da necessidade ser alguém de opinião.

A necessidade de ter uma opinião formada a respeito de qualquer coisa é reflexo de uma obrigação imposta pelo discurso liberal do capacite-se. Pessoas capacitadas, em tese, são pessoas mais instruídas e, também em tese, mais aptas a opinar. Todas as pessoas julgam-se capacitadas. Ou, pior, querem parecer ser, sabendo que não são. É uma necessidade imposta pelas regras do mercado de trabalho, pelas expectativas dos empregadores acerca do empregado. Ou seja, as pessoas de hoje têm essa necessidade apenas por ser uma qualidade querida no nosso sistema capitalista moderno. Não que isso seja errado. Claro que não é, as pessoas fazem o que querem da vida. Claro que essa qualidade só é bem vinda em cargos mais elevados, mas como ninguém quer ser peão...

Outro motivo é pelo, chamemos de, glamour existente em ser uma pessoa de opinião. Ou seja vaidade. Ao longo dos anos pessoas de opinião influenciaram o destino de nações inteiras, para o bem ou para o mal. Todo mundo quer ser influente. A TV nos mostra o quanto isso é importante todo o tempo. Até eu que sou mais bobo!!! Outra coisa, boas influências ou impressionar alguém influente pode render bons empregos.
O que muitas vezes não é notado por pessoas que querem ter opinião que essa não se faz da noite pro dia e sem esforço. Não basta ler uma noticia, ou escutar um disco apenas. É preciso estudo, dedicação, ouvir e ler pontos de vistas diversos, de várias pessoas, se por em dúvida. O estar em movimento da opinião formada em muitos momentos significa voltar atrás, se contradizer se necessário. Não há mal nenhum em errar, ou achar que errou. Estar em movimento é uma conquista, não mais um produto. Não se compra. O mal existe quando não se dá conta do que está acontecendo. Existe o mal na necessidade existente em ter uma opinião sem se saber porquê a quer ter. E infelizmente, hoje, até o comunista mais caxias só a quer pela necessidade imposta pelo nosso sistema das oportunidades para todos, o capitalismo.

Me despeço, por hora, sem pretensão alguma com esse texto, a não ser a de partilhar uma reflexão que tive, e que, em verdade, em nada altera nem mesmo minha vida. Como se diz, foi apenas uma viagem que tive lendo os comentários feitos ao CASACA, mas que creio valer a pena deixar uma pergunta a todos, que não precisa ser respondida, mas ponderada. Por que é tão importante assim ter uma opinião?

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